Introdução
Desde 12 de janeiro deste ano, acompanhando a tragédia causada pelas chuvas e pelo descaso de décadas, das autoridades nos projetos de urbanização das cidades da região serrana, que causaram a morte de centenas de pessoas, comecei a refletir sobre a possibilidade real de participação da fisioterapia nas calamidades.
Assistimos todos nós, através da mídia, a extensão da tragédia e as dificuldades, muitas, no socorro as vítimas, embora a mobilização de voluntários tenha sido grande.
Toda a sociedade se emocionou e procurou ajudar de alguma forma. Vários profissionais da saúde, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos em saúde, entre outros, se ofereceram, foram convocados ou convidados a participarem dos trabalhos de salvamento dos sobreviventes da catástrofe, a qual tinha no momento caráter emergencial, muitas vidas dependiam do desprendimento e qualificação destes profissionais.
Cada vez mais, vê-se o quanto se é importante ter o conhecimento em primeiros socorros, o quão fundamental é, nas atuais circunstâncias em que vivemos hoje nas grandes cidades, onde há muita correria, pressa, estresse, desorganizações sociais e violência generalizada, estarmos capacitados ao atendimento de urgência e pré hospitalar.
Tenho parentes que moram em Teresópolis, e sendo fisioterapeuta, filha e mãe, iniciei uma reflexão sobre o real preparo e capacidade de nós, fisioterapeutas, mediante circunstâncias drásticas, onde a condição de equilíbrio emocional e de conhecimento prático em primeiros socorros torna-se um fator preponderante, fazendo parte de requisitos básicos para atuarmos em tais situações extremas.
Profissionais de outras áreas da saúde e autoridades da gestão pública, ainda desconhecem a aplicabilidade e resolutividade das ações fisioterapêuticas em situações de extrema necessidade social. Até mesmo alguns fisioterapeutas não estão cientes das suas competências, habilidades e legalidade de atuação profissional diante de situações de urgência, em que é primordial a assistência especializada para salvar vidas.
Dentro da legislação, encontramos na Resolução COFFITO nº 29, anexo VII, dando amparo legal e legítimo de atuação. A resolução diz que é proibido ao fisioterapeuta “Negar assistência à comunidade em caso de guerra, catástrofe, epidemia ou grave crise social, ou pleitear vantagem pessoal para a prestação dessa assistência, sob pena de repreensão e multa ou suspensão do exercício profissional ou cancelamento da inscrição”.
Este parágrafo nos confere legalidade de ação, mas para a realização de assistência adequada o profissional deve estar preparado tecnicamente.
Acreditem, há alguns anos, ouvi o relato de colegas que temiam andar de branco, pois uma emergência em transito poderia ocorrer e serem confundidos com médicos e neste momento não saberiam como agir.
Na verdade, isto ocorre porque nos tornamos profissionais científicos e tecnicamente preparados para atuarmos em fase primária e terciária. Pouco se fala sobre a assistência emergencial e pré-hospitalar, e menos ainda nos é, e nos foi, ensinado sobre os atendimentos em casos de calamidades, catástrofes, incêndio, afogamento, atropelamentos, acidentes automobilísticos, de motos, convulsões e desmaios.
Muitos de nós, fisioterapeutas, nos preparamos em cima de métodos tradicionais, que se baseiam dentro de muitas técnicas de cinesioterapia e terapias manuais, que nos traz crescimento técnico profissional. Por outro lado, nos colocamos no mercado de trabalho, em busca de setores específicos como UTIs em hospitais, clínicas especializadas e consultórios, afastando-nos muitas vezes, do estudo constante dos conhecimentos primários da fisiologia e da clínica.
Durante a graduação de fisioterapia, em todas as instituições de ensino, existem dentro da grade curricular, as disciplinas de fisiologia, patologia, biomecânica aprofundada, cinesioterapia, métodos e técnicas de fisioterapia (grande parte métodos internacionais), disciplinas aplicadas em todas as especialidades clínicas, e radiodiagnóstico. Em algumas já há a inserção das disciplinas de primeiros socorros e análises laboratoriais.
Pressupõe-se que ao fim do curso, após estudos, o acadêmico esteja pronto para atuar em todas as áreas, inclusive estando apto a atender pessoas em situação de emergência. Contudo já é sabido hoje, que para a obtenção de maior capacitação e segurança, o profissional deverá estar em constante atualização, realizando cursos de especialização e extensão, em especial, credenciados ao Conselho de Fisioterapia – CREFITO.
Assim sendo, pressumi-se que o profissional tenha suporte técnico científico, podendo em casos de emergência, diagnosticar e oferecer os primeiros atendimentos em situação pré-hospitalar, tendo todas as condições de integrar uma equipe de socorristas, realizando exame primário e secundário.
Para atuar, o fisioterapeuta especialista, deverá estar apto à: atender em estados de calamidades o paciente em estado de choque, realizar ressuscitação cárdio pulmonar, atuar nas asfixia e afogamento, reconhecer e mobilizar nas lesões traumatológicas gerais, promover adequada imobilização e remoção do assistido sem agravamento do seu quadro clínico.
Para atuar conscientemente e com exatidão profissional o fisioterapeuta deverá ainda, especializar-se na prática, participando de cursos específicos em primeiros socorros, onde realmente poderá estar preparado de maneira segura e precisa, atendendo de forma adequada e rápida aos que necessitam de atendimento emergencial diante de calamidades e catástrofes.
E você colega fisioterapeuta sabe como agir em situações de emergência? Sabe como aplicar seus conhecimentos? Tem mesmo conhecimento real da existência das habilidades, autonomia e responsabilidades, social, profissional e ética diante das calamidades sociais e naturais?
Concluindo, a efetiva e ideal atuação do fisioterapeuta em uma equipe de salvamento, se dá graças aos conhecimentos que o capacitam, o qual não somente prestará o devido atendimento a vítima, como também atuará junto à equipe, executando ações preventivas que garantirá a saúde e qualidade de vida da vítima e do socorrista.
Em breve darei continuidade ao assunto, no desejo de estar colaborando no crescimento da Fisioterapia. Postarei os conceitos e aplicações em primeiros socorros a vítimas de calamidades sociais e naturais.