RIO DE JANEIRO/RJ

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Meu Lugar no Mundo

sábado, 21 de maio de 2011

DEUS COM CARA DE DIABO


As pessoas são sempre muito interessantes. Aplicando o olhar “discipular”(olhar de discípulo), perceberemos que tudo que queremos e precisamos saber nos é apresentado pelas pessoas que constroem o nosso caminhar. Os parceiros de caminhada são mestres disfarçados. Estão, constantemente, nos ensinando o que fazer e o que não fazer. Com eles aprendemos a nos conhecer melhor. Podemos melhor entender a nós mesmos na estrutura espelhada do “outro”.

No decorrer da vida deparo-me com muitas pessoas, ouço inúmeras historias de vidas, até mesmo pela profissão. Praticando meu olhar “discipular”, recebo todos como meus grandes mestres. Todavia, nunca deixei de avaliar a intenção dos corações em seus atos. Aprendi, ao conhecer um caçador, sobre um deus que tinha “a vida nos olhos”. `.`

As minhas experiências no convívio humano apresentaram-me, dentre tantas outras coisas, uma em especial... Deus com cara de diabo. Uma metáfora fiel da pratica cotidiana.

Quando chego para conhecer e ser conhecido em um novo grupo humano, percebo que o nome de um determinado indivíduo é sempre lembrado com pouca saudade. Referem-se a ele como um indesejado, malfazejo, às vezes até desprezível. Contam-me historias sobre as dores morais geradas por tal pessoa e sugerem-me a tomar cuidado com a sua aproximação.

Obvio que memorizo seu nome, não pretendo me expor aos seus modos de relacionamento. Acontece que tenho o hábito de permitir a máxima proximidade emocional com as pessoas, dentro da minha zona de segurança. Então, ao iniciar convívio com aquele dito indivíduo e permitir-lhe uma exposição, vigiada, ao meu território emocional, percebo que tudo o que ele realiza é sob a melhor das intenções. Embora não pareça.

Ouço atentamente suas historias, analiso seus ângulos de visão e percebo que ele só deseja ser muito querido, muito bem lembrado, ele é um Protetor potencial. Fica evidente a sua inabilidade em aplicar sua boa intenção e sua infelicidade pela suposta incompreensão alheia.

Já foi dito: “O cemitério está cheio de pessoas bem intencionadas”.
É verdade, somente a boa intenção não resolve, é preciso saber aplicá-la. As pessoas sem essa percepção comportamental sofrem demasiadamente ao perceberem que, quanto mais fazem para serem queridas, mais se tornam indesejadas. É preciso habilitar-se para o bom convívio.

A filosofia taoísta nos apresenta uma força única – Qi - com dois lados, o Yin e o Yang. Esses dois lados são opostos e complementares. Sublinhei essa palavra para ressaltar que não basta apenas ser oposto, é preciso que seja complementar para se aplicar as leis taoístas. O exemplo da Noite e o Dia, são opostos mas também são complementares. Se não o fossem não completaríamos o ciclo. Como manteríamos a vida só com o Dia ou somente com a Noite?! O mesmo se dá com o Masculino e o feminino, e outros incontáveis pares.

O sentimento é ímpar, mas tem duas expressões. A emoção é a expressão do sentimento. Quanto maior for a capacidade de gratidão, maior será a de vingança. Ambas não são partes do mesmo sentimento?!

Podemos ver essa lei se aplicando com o Amor e o Ódio. Quanto maior for a capacidade de amar, maior será a capacidade de odiar, são os lados da mesma energia. Para o tema desse texto, veremos que existe outra força única que se divide em dois lados opostos e complementares. O Amor e o Ódio.

Metaforizando, assim como os orientais, podemos dizer que todos nós temos um Deus e um Diabo dentro de nós (leia-se: um lado bom e um ruim). A energia é única, mas tem seus dois lados opostos e complementares. Toda reação vai depender de qual deles foi “acordado” na intenção do ato. Só para complementar o curioso raciocínio, o Instinto é aquele que acorda, naturalmente, mais rapidamente.

Estamos em um mundo preponderantemente tridimensional e chamamos isso de Forma. Largura, altura e profundidade é tudo que quase todos conseguem ver. Se a forma é a percepção do nosso mundo, ela receberá a mais importante consideração em nossos atos. Está aí a estética. Estética na engenharia, na física, mecânica, corporal, profissional, dentre outras... A forma de expressar uma idéia.

Sendo assim, a maneira pela qual expressamos nosso sentimento determina a emoção que será despertada no outro. Na forma oriental diríamos: Quando Deus e o Diabo estiverem dormindo, se expresse com maestria para acordar somente a quem deseja que seja acordado.

O cuidado com os sentimentos alheios, suas convicções, impressões e crenças, não faz barulho suficiente para acordar o diabo. O cuidado é o carinho na expressão. As falas e atos comedidos e respeitadores do limite alheio acordam somente Deus. Um sinal de respeito, no mínimo.

Voltando a atenção para aquele indivíduo citado no inicio da conversa, ele é uma pessoa sem habilidades para acordar o melhor lado do outro. Desconhece limites, principalmente. Gera irritabilidade, antipatia e apatia, podendo chegar ao Ódio. Não se preocupa com os valores individuais e não respeita a vivência alheia. Contudo, sua principal intenção é a de provocar o “bem querer”. Ele se expressa mal.

Por falta de oportunidades, percepção ou humildade (não necessariamente nessa ordem), não se deu conta ainda que está fazendo o barulho errado para acordar a quem ele deseja. No fundo ele é um deus... Deus com cara de Diabo.


Autor: Vladimir Ribeiro
Fonte:http://vladimirribeiro.blogspot.com/